Uma agenda para a ABPN

Caríssimos, Diante das recentes demandas para atender as mais diferentes ações da causa antirracista, entendo que seja necessário fazer alguns esclarecimentos. Quando nós organizamos a ABPN em 2000, nossa perspectiva não era construir uma organização do Movimento Negro, embora esta dubiedade sempre existiu/ se confrontou no seio da associação. Aqueles que como eu se engajaram neste processo, participavam desde 1996, da articulação de núcleos de estudos afro-brasileiros, que se constituiu em Brasília, a partir do Seminário Multiculturalismo e Políticas de Ação Afirmativa, organizado por Dulce Pereira. Pararelo ao trabalho que levou a organização do Encontro de Pesquisadores Negros de São Paulo (Marília, 1989), Wilson Mattos, Dagoberto,Anória, Acácio Santos, Carla Nascimento, Palmira, entre outros, participavamos da organização do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da PUC/SP, onde sofremos inúmeros ataques de organizações paulistanas, justamente porque nós fizemos uma opção pela Academia. Dizíamos que queríamos assaltar o céu. enfrentar a supremacia branca ali onde ela se legitimava: a universidade. Em 1991, organizamos um Seminário com o seguinte tema: Superar a Denúncia,o desafio do movimento negro. Dele participaram Hamilton Cardoso, Dulce Pereira, Lélia Gonzales, Octávio Ianni e Julio Tavares. Queríamos no diálogo com os mais velhos construir uma outra perspectiva de ação antirracista que superasse a estratégia da denúncia do MN (Saudações a Miriam Ferrara). Ousamos fazer experimentações e contribuímos, por conta do nosso contato com a antropologia de Kabengele Munanga, Fabio Leite, Teresinha Bernardo e Josideth Consorte e a história de Déa Ribeiro Fenelon, Maria Antonieta Antonacci,Yara Maria Aun Khoury, ente outros, por colocar a cultura, as culturas africanas no centro da reflexão sobre modos de vida. De certa maneira, fizemos parte de uma geração de intelectuais/acadêmicos com um modo diferente de pensar e agir sobre o racismo.Nós optamos por uma ação institucional na universidade brasileira. Por isso, 20 anos depois, ao organizar o VII COPENE propusemos como tema, reparem os desafios da luta antirracista!!! Embora não devamos deixar de participar das mobilizações anti-racistas de um modo geral, a tarefa mais importante da ABPN, no meu entendimento, é dialogar com as agências públicas e da cooperação internacional no sentido de apresentar e negociar uma agenda dos pesquisadores negros. Neste sentido, nosso foco são as inúmeras condicionantes que configuram um telhado de vidro que impedem a nossa ascensão enquanto acadêmicos e a consolidação dos estudos africanos e da diáspora africana na Universidade. Trata-se de organizar um ataque coordenado a academia, de modo que a gente garanta nossa presença na Universidade e com todos os desdobramentos positivos que isso representa. Polêmicas são importantes, mas não devem pautar nossa intervenção. No curto prazo me interessa muito mais, identificar e propor soluções para aqueles obstáculos que impedem o acesso, permanência e sucesso na Universidade. Travamos uma dialogo com Ministério da Saúde, SEPPIR, MEC, MINc, por exemplo, em torno do financiamento de pesquisas, consolidação dos núcleos de estudos afro-brasileiros e remoção daqueles elementos que impedem a expansão de pesquisas e pesquisadores negros. Nossa tarefa fundamental e que trará legitimidade institucional para ABPN está na capacidade , em articulação com os NEABS, de pensar, monitorar, orientar, dar ganhos de escala e capilaridade as políticas públicas para os Afros. Um outro ponto que considero importante, é a formação de fontes de informação e de quadros com grande competência técnica e sensibilidade social para a gestão pública e coordenação de instituições da sociedade civil. Deixei o Movimento Negro em 1996 quando saí o Núcleo de Estudos Negros, pois entendo que os pesquisadores e os NEABS são um novo ator político na luta antirracista com uma agenda própria que implica em articulação, dialogo com o movimento negro, mas que não se confunde com ele. Um abraço, Paulino Cardoso

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