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O grande perigo está de volta, por Miguel do Rosário

O grande perigo está de volta, por Miguel do Rosário


















de O Cafezinho


por Miguel do Rosário


O grande perigo está de volta

Algumas palavras sobre a manifestação ocorrida ontem em São Paulo e
suas consequências. Antes, uma observação importante. Defendo
manifestações democráticas. Não venham me chantagear com esse papo de
“criminalizar” movimentos sociais.


Mas já aprendi uma coisa, de uns tempos para cá. Manifestações com
presença de mascarados não são democráticas. Mascarados mancham
indelevelmente qualquer manifestação, porque a gente sabe,
antecipadamente, que apelarão para violências, e podem conter
infiltrados cujo objetivo é justamente destruir ou desqualificar a
manifestação.


Grandes armadilhas contra a nossa democracia estão sendo armadas. O
movimento #naovaitercopa reúne inúmeros grupelhos de extrema-esquerda,
mas conta com o apoio esquizofrênico de todos os grupos de
extrema-direita, também interessados no caos e na derrubada do regime.
Esses grupos financiam páginas na internet, memes e textos. Não, não é
mais paranóia. Proliferam nas redes sociais um número alarmante de
grupos e indivíduos que defendem um golpe de Estado, inclusive militar.
Setores da direita, desesperados com a distância do poder, e farejando
nova derrota este ano, perderam os escrúpulos democráticos que fingiam
ter e estão demonstrando um perigoso descontrole emocional.





Falei em armadilhas porque é disso que se trata. Fazer a população se
lançar voluntariamente no abismo, achando que está participando de uma
revolução.



A maioria dos intelectuais brasileiros de esquerda pode ser
facilmente manipulada por estratégias simples. Bota-se um punhado de
jovens na rua pregando revolução, pedindo mais gastos em educação,
reclamando da Globo, coisas simples e boas. Mas aí se acrescenta um
elemento explosivo: algumas dezenas, ou centenas, de mascarados para
assustar a polícia, quebrar bancos e incitar repressão.


Pronto. Temos o cenário perfeito. Alguns líderes de movimentos
sociais, cansados de apanhar da polícia, rapidamente aderem aos
protestos. Como ser contra?


Em pouco tempo, contudo, ninguém mais sabe porque está na rua, nem
manifestantes nem policiais, repetindo-se a lógica irracional de uma
guerra civil.


Sei que é difícil acreditar na imprensa hoje, mas todos os sites que eu li falavam de 2 manifestantes e cinco PMs feridos.


Isso é perigoso. As polícias militares têm imensas deficiências. Mas o
culpado não é o policial, um trabalhador que ganha pouco e se arrisca
muito. A partir do momento em que os manifestantes começarem a descontar
sua testosterona em cima desses PMs, correremos enorme risco. O culpado
pela violência policial é o sistema.


Nosso judiciário também tem culpa, por ser truculento e reacionário,
evitando penas alternativas e prisão domiciliar inclusive para
presidiários doentes que não oferecem nenhum perigo à sociedade. Por que
a imprensa não fez violentos protestos quando descobriu que o
Judiciário negava prisão domiciliar a um tetraplégico preso na Papuda
por fumar maconha? Não protestou porque isso poderia beneficiar José
Genoíno?


Por que os manifestantes só hostilizam as instituições democráticas e deixam o Judiciário e o Ministério Público em paz?


Entretanto, o mais surreal é que o movimento #naovaitercopa pede mais
gastos em educação e saúde, mas o cancelamento da Copa provocaria um
prejuízo enorme ao Estado, e portanto, forçaria cortes em educação e
saúde.


Essa é a grande esquizofrenia coxinha, que se mistura ao marxismo
enfumaçado de jovens universitários, que tem planos de saúde e estudam
em universidades públicas.


Dinheiro para Saúde e Educação não cai do céu. É fruto dos impostos. A
arrecadação fiscal per capita no Brasil ainda muito inferior a dos
países desenvolvidos. Somos um país rico, mas um povo pobre. A única
maneira de aumentar a arrecadação é aumentar a atividade econômica. E aí
entra a importância da Copa. Se ela atrai turistas, se gera novos
negócios, gerará também mais atividade econômica, que por sua vez gerará
impostos, que poderão ser usados em Saúde e Educação.


A Copa é importante, portanto, para gerar mais gastos em Educação e Saúde.


Sobre os mascarados, já falei aqui. Sou contra a presença dele em
manifestações. O Brasil deveria fazer uma legislação específica para
coibir o uso de máscaras em manifestações, para proteção dos próprios
manifestantes. A presença de mascarados facilita a infiltração de
provocadores, que agem para destruir a própria manifestação.


Não podemos esquecer tão rápido a morte do repórter Santigo, até
porque ainda não discutimos profundamente o que aconteceu. Um dos
rapazes disse que o rojão era destinado à polícia. Esse é o grande
perigo. Imagine se o rojão explodisse no rosto de um policial,
ferindo-o. Seus colegas se descontrolariam emocionalmente e partiriam
para cima dos manifestantes, e eis que ocorre uma morte de um
manifestante, quiçá de um totalmente pacífico. Balas são traiçoeiras.


O que aconteceria? Haveria uma comoção nacional? O Brasil se ergueria em fúria? Contra o quê? Contra quem?


Pior, e se o rojão que feriu o policial tivesse sido disparado justamente com essa intenção?


Será possível que o Brasil tenha se tornado um país tão facilmente manipulável? Tão frágil? É tão fácil assim nos derrubar?


Pior que sim.


A nossa mídia é um caso perdido. Ela se vende a quem paga mais caro. E
sabemos muito bem a quem ela presta continência em primeiro lugar. Esse
é um problema importante em toda a América Latina. Suas mídias não são
comprometidas, de fato, com a democracia, apesar de sempre usarem o
vocabulário democrático para venderem suas teses. Foi assim em 1964. É
assim hoje.


Qual a solução? A solução é lutar por uma reforma política e uma regulamentação democrática da mídia.


A nossa imprensa faz ataques ao Sarney, e a Henrique Alves, mas
jamais informou ao Brasil de onde eles tiram seu poder eleitoral: suas
famílias controlam as mídias regionais, sobretudo a distribuidora da
Rede Globo.


A elite é muito esperta. Pode financiar, secretamente, manifestações
lideradas por jovens de extrema esquerda que pregam o fim do
capitalismo. O objetivo é fomentar o caos, constranger o governo e criar
na população o desejo por uma liderança forte, austera, que
reestabeleça a ordem.


Não é uma conspiração tão complicada assim, afinal. Nem moderna. Os
romanos a praticavam há mais de mil anos. Fomentavam revoltas domésticas
nos povos que desejavam dominar. Às vezes financiavam inclusive
movimentos contra Roma, sempre com objetivo de dividir e conquistar.


Quem participa de manifestações que contam com a presença de
mascarados, portanto, pode estar participando de um ataque à nossa
democracia sem o saber. Afinal, como saber que não há, entre os
mascarados, gente que defende o golpe militar ou mercenários pagos por
organizações de extrema-direita?


O pior é que os setores mais perigosos da direita sabem que apenas a
emergência de uma situação de caos poderia lhe dar esperanças de uma
mudança no regime. O caos é criativo. Pode gerar mudanças também para
melhor. É esta a melhor armadilha para a esquerda: uma isca. Ela vê a
possibilidade de mudança e seus olhos brilham, e vai atrás, não vendo
que caminha para o abismo.


Os que financiam essas iniciativas com certeza saberão minimizar os
riscos de que esses protestos se voltem contra eles. Não à tôa, a mídia
já tem feito, desde as jornadas de junho, um malicioso jogo duplo.


Primeiro, fingiu apoiar as manifestações, mesmo com a violência
ultrapassando todos os limites do tolerável, a ponto de repórteres
cobrirem os protestos do alto de helicópteros para não serem agredidos,
seja por manifestantes, seja por policiais (principalmente, sabe-se lá
porque). O que acho ridículo. Manifestações minimamente civilizadas
jamais agridem jornalistas. Agora, a mídia finge ser contra os black
blocs, mas lhes dão um espaço que jamais nenhum outro grupelho jamais
teve. Suas mensagens são reproduzidas em seus portais imediatamente após
serem publicadas.


Estamos diante de grandes perigos, complexas armadilhas. Por isso
temos que ser firmes. A defesa da ordem não é monopólio da direita ou da
ditadura. A democracia também precisa de ordem. Jovens cheios de
testosterona e fumaça podem se esquecer disso. O povo, não. Se a
democracia não oferecer ordem, segurança e estabilidade ao povo, ele
escolherá a ditadura.


A democracia, por isso mesmo, tem de se defender. O Brasil precisa de
paz, para terminar de construir as estradas, ferrovias, hidrelétricas,
pontes, refinarias, portos e aeroportos de que necessita para crescer
economicamente e dar continuidade ao processo de distribuição de renda e
melhora dos serviços oferecidos à população.


Não tem nada de progressista achar que o país deva ficar refém de
grupos violentos, sem qualquer tipo de repressão. Aliás, a PM de São
Paulo que cercou a manifestação inaugurou uma tática louvável. Os Pms
não portavam armas. O número de feridos caiu drasticamente.  Esse é o
caminho. Repressão inteligente, estratégica, apenas na medida em que a
necessidade exige.


Até porque não me surpreenderia se alguns estados fizessem uma
repressão calculada, justamente para produzir comoção nacional e
estimular mais protestos.


Temos alguns pactos tácitos na nossa sociedade. Movimentos de sem
teto e sem terra, por exemplo, tem suas liberdades. Podem invadir
fazendas improdutivas e edifícios abandonados, porque a democracia
precisa de alguns empurrões para avançar. Mas não há sentido em entender
a democracia como um regime em que todos podem tudo. Não tem sentido
permitir que jovens mimados quebrem agências bancárias, provoquem caos
no trânsito, revirem lixeiras, invadam e depredem repartições públicas. E
tudo isso sem objetivo, sem liderança, sem qualquer estratégia.


Não é assim que faremos o país melhorar. O Brasil precisa de
inteligência, não de truculência. Se houver necessidade de sermos
violentos um dia, que seja para defendemos a democracia, não para
sabotá-la.


Jovem e pacífico manifestante protestando contra a Copa, ontem em SP. Foto G1
Jovem e pacífico manifestantes protestando contra a Copa, ontem em SP. Foto G1


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