Eu sou o capitão de minha alma!!!


Eu sou um desses...






De centenas de meninos e meninas fui um dos poucos que foi terminar o ensino fundamental na EBD Lauro Muller. Trabalhava pela manhã e estudava a tarde. Nessa época conheci o Alfredo Balduíno Santos vendendo nas feiras públicas nas barracas dos alemães. Fomos para o 2ºGrau no Colégio Getúlio Vargas. Trabalhava o dia todo, a noite colégio. Sexta-feira das dez a meia noite no boteco. Subia o morro correndo, dormia até as quatro e meia. Comia batadoce frita e me mandava pra feira de sabado pra garantir as frutas, os legumes, a farinha, o torresmo, o queijo da semana. No último ano, trabalho, feira, colégio e estudar para o vestibular. Éramos apenas 14, alojados na antiga sala dos professoresde Educação Física. Meus amigos do BRDE,ajudaram me deixando cuidando de uma das recepções. 

Naquele ano passei no vestibular e virei um problema. Não podia ficar no PROBEM (Programa de Bem Estar do Menor), pois hávia passado no vestibular e não tinha dinheiro para permanecer na UFSC. Minhas queridas assistentes sociais conseguiram um estágio na Prefeitura. Foi lá que conheci a Teresa Mara Franzoni. Estávamos organizando uma paralização de bolsistas e acabamos envolvidos em uma das primeiras greves unificadas da Prefeitura de Florianópolis. 

Na UFSC recebia uma bolsa que correspondia a menos de um salário mínimo. Resultado, se tinha dinheiro para o ônibus, não tinha para o restaurante universitário. O jeito era ir a pé do Morro da Macumba, no Saco dos Limões, até a Trindade onde ficava a cidade universitária. Na ida deixava o Evaldo Rafaell Moraes na creche do Centro Social Urbano. Na volta fazia um ramalhete de flores furtadas pelos quintais para minha mãe. Me lembro que um pai de alguém um dia me perguntou se não deveria trabalhar para ajudar minha famíla. Respondi que o melhor que podia fazer por minha mãe e irmãos era estudar. Pois só vagabundeando pela universidade é que teria acesso as oportunidades. Ganhar uma bolsa de iniciação científica e minha primeira conta bancária, viajar por esse país a fora e descobrir que era uma pessoa bonita.

Mal terminei a graduação e passei para o Programa de Pós-Graduação em História da PUC/SP. Sem bolsa, tornei-me professor de qutrocentos e cinquenta alunos do ensino fundamental e médio na periferia de SãoPaulo, lá pros lados da Sapopemba. Aí, graças a Comissão de Bolsas, a minha cartinha de miserabilidade pública e a presença estratégica da Cristina Scheibe Wolff na comissão, ufa!!!, ganhei uma bolsa de mestrado e minha vida mudou da água pro vinho. 

Muitas lutas, muitos sonhos ...Eu só queria chegar aqui e com muitos outros que tombaram pelo caminho, Tom e Jerry, Côco, Cobrinha, Dida e tantos outros. Se tivéssemos o sistema de proteção social consolidado no Governos Lula e Dilma, poderia fazer comoCandeia (Official), cantar um samba na universidade com os meus!!!! 



PS: Esta semana fui a UFSC para matricular minha Dandara Cardoso. Fiquei muito emocionado, dei um abraço e falei que era a primeira vez que aquilo acontecia na nossa família. Minha filha irá cursar Letras - Francês no lugar onde estudei. E quem encontro na secretaria do Curso, a Iria. Menina , amiga da vida toda. Nós. crianças ainda, nos reconhecemos como parceiros naquelas feiras de Florianópolis!!

PS2: Poeminha que traduz essa minha vida e minhas escolhas.

Invictus

Noite à fora que me cobre
Negra como breu de ponta a ponta
Eu agradeço, a seja quais forem os Deuses
Por minha alma inconquistável.

Nas créis garras da circunstância
Eu não fiz cara feia ou sequer gritei.
Sob as pauladas da sorte
Minha cabeça está sangrenta, mas não abaixada.

Além desse lugar de raiva e lágrimas
É iminente o horror da escuridão
E ainda o avançar dos anos
Encontra, e deve encontrar, sem medo.

Não importa o quão estreito seja o portão,
O quão carregado com castigos esteja o pergaminho,
Eu sou o mestre do meu destino;
Eu sou o capitão da minha alma.
William Ernest Henley

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