VAMOS POR FOGO À CASA GRANDE!

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Queridos, queridas colegas, amigos , companheiras e camaradas,

Ao longo dos últimos anos tenho visto as pesssoas negras reagir ao conteúdo de um anúncio publicitário, de um programa humorístico,  da frase de um jogador, de ginasta ou técnico de futebol. Reclamamos de nossa ausência na magistratura, nos cargo de docência das universidades públicas, da nossa subrepresentação nos cargos de primeiro escalão, em especial, no Governo Federal que, como sabemos foi eleito majoritariamente com o voto negros. E issó é bom!!

Entretanto, penso que precisamos deixar de reagir as representações que os brancos tem de nós e discutir o que realmente importa: o poder.

Duante os últimos trinta anos acreditamos no caminho propostos pelos canais democráticos, organizamos a sociedade cívil, campanhas de esclarecimento, luta institucional em diferentes esferas, participamos dos mais diferentes partidos políticos, conseguimos assim enfrentar o mito da democracia racial brasileira. Obrigamos os poderes legislativo , executivo e judiciárioa reconhecer a existência do racismo e a elaborar políticas de promoção de igualdade racial.

Assim, açãos universialistas, combinadas com recorte racial de de gênero, como bolsa família, PROUNE, FIES, PRONATEC, Minha Casa, Minha Vida, Ciência Sem Fronteiras, Luz para Todos, valorização do salário mínimo, entre outros, pareceu nos alavancar para a classe média e a vivência cidadã.

Entretanto, para mosso desespero, nunca nos encarceraram tanto, nunca nos mataram tanto. Certamente, dados das agências de saúde devem indicar o brutal impacto do sofrimento psíquico associado ao racismo na degradação de nossa saúde mental.Por último, avalanche conservadora e fascista, capitaneada pelo fundamentalismo cristão ameaça destruir tudo o que cosntruimos de liberdades nas últimas décadas. 

Em minha opinião, nós chegamos ao limite daquilo que os descendentes de colonos europeus, autodenominados brancos, estão dispostos a negociar. Sejam eles de esquerda ou de direita, sejam conservadores ou progressistas, eles controlam os mecanismos de legitimação democrática e grande parte de nós, de nossas organizações do movimento social, foram reduzidos a ONGs que vivem de migalhas do Estado ou da filantropia.

Precisamos voltar ao básico ancorados nas lutas por libertação de povos oprimidos em todo mundo. Necesitamos focar nossa ação na educação política da nossa população para o enfrentamento do colonialismo. Afinal, o racismo é somente isso,  a face contemporânea do colonialismo. Aqueles que detém os privilégios da distribuição de status, prestígio e poder, não cometeram suicídio político por terem sido esclarecidos da natureza racista de suas ações.

Neste sentido, acredito ser estratégico tornar o caso Miriam França referência para ação do movimento negro. Nós temos que ser capazes de defender nossa gente contra as injustiças cotidianas causadas pelos colonos. Centenas, milhares de pessoas negras precisam dizer , em primeiro lugar, aos nossos irmãos e irmãs oprimidos/as que não estão sózinhos/as. Racistas de toda ordem devem ser lembrados que seus atos terão consequências, na medida em que a violência necessita de nosso silêncio cumplice para se perpetuar.

Aqueles que ocupam espaços de poder e não se acham vinculados a nós, nos veem como um problema para os governos, não passam de novos administradores coloniais, novos feitores da eterna Casa Grande.O exercício da ação governamental não pode servir apenas as nossas redes de poder, as nossas afinidades eletivas, mas deve ser instrumento de fortalecimento das organizações do campo antirracista.

Entendo como absolutamente fundamental que o movimento organize uma plenária para uma definição de agenda política para a década dos Afrodescendentes, como fazem os nicaraguense s, colombianos, espanhóis, entre outros. Nesse sentido, devemos todos apoiar de forma agressiva a Marcha das Mulheres Negras porque a mobilização que ocorre em todo país tem revelado milhares de lideranças locais que podem renovar o movimento negro. 

Precisamos de um fórum para eliminar controvérsias e pactuar agendas baseadas em nossas próprias experiências. Precisamos preparar nossa gente para as batalhas que virão, para arrancar dos brancos e seus capatazes nosso direitos de sonhar como homens e mulheres livres.

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