BAYAH: KENNETH BANCROFT CLARK – A PSICOLOGIA REVELANDO O RACISMO

SÁBADO, 28 DE JULHO DE 2012

KENNETH BANCROFT CLARK – A PSICOLOGIA REVELANDO O RACISMO



Por Malachiyah Ben Ysrayl - Historiador e Hebreu-Israelita
Skype: lindoebano
Facebook: Walter Passos

Quando eu ministrava aulas nas 5ª e 6ª séries do ensino fundamental, dançava reggae e cantava com os estudantes para a descontração deles, porque naquela idade eles são bem ativos, sendo necessários estes intervalos em plena aula para que possam balançar o corpo em um espaço que mais parece uma prisão. Em uma escola de maioria de pretos e pretas, o reggae era uma maneira de expressar a africanidade, balançar o corpo e fazê-los sorrir. Os outros docentes não aprovavam o minha didática porque acreditavam no silêncio monástico europeu que está embasada a educação nos bairros pretos.

Um dia resolvi inovar e levei “Lola” uma boneca preta da minha filha Vanessa para uma turma de 5ª série. Coloquei a boneca na mesa e a reação dos estudantes foi de estranheza. Perguntei a uma estudante, na época com 11 anos de idade, se ela desejava carregá-la e a mesma recusou, porque era uma boneca turututu.

A menina da época já é uma mulher e mãe de família e sempre quando a vejo, pergunto:

- E a boneca?

E ela sorri.

Foi um momento especial de reflexão, porque apesar de conhecerem o reggae e músicas de blocos afros de Salvador, os estudantes consideraram a boneca feia. Aproveitei a oportunidade e comecei a conversar sobre identidade e discriminação racial, resultando em um trabalho maravilhoso.

Atualmente em redes sociais ex-estudantes me adicionam relembrando das minhas aulas e agradecendo por terem se aceitado como pretas e pretos. Esta é a minha maior recompensa como educador.

Infelizmente, todas as crianças pretas conhecem a discriminação racial e que em muitos casos inicia-se no seio familiar com as próprias mães e irmãs quando ensinam que elas têm os cabelo ruins ou duros, e precisam melhorar as aparências, criando no psique das criança um questionamento acerca da sua beleza e autoestima, culminando na negação da sua africanidade.

Nestes últimos dias foram relatados atos de discriminação racial com crianças, e comentado pela mídia. O caso da menina de quatro anos de idade adjetivada de preta e horrorosa por uma avó de um menino com a qual a criança havia dançado quadrilha junina. O outro fato denunciado nas redes sociais foi sobre o personagem Cirilo, e a internauta Sara Santos descreveu:

Cirillo da Novela:
- O garotinho negro que 
se apaixona pela garota branca e é rejeitado (garota essa que odeia os pobres) Sofre feito um "cão", vive em conflitos por conta da cor e rejeição. Em uma cena da novela diz: se eu fosse branco minha vida ia ser melhor... frases desse tipo.

Psicologicamente as crianças são as maiores vítimas do racismo. Nos USA, um proeminente psicólogo comprovou que o racismo leva as crianças a uma baixa autoestima e sobre o seu trabalho teço alguns comentários:

Kenneth Bancroft Clark nasceu no na Zona do Canal do Panamá em 1914, filho de Arthur Bancroft Clark e Miriam Hanson Clark. A sua mãe trabalhava como costureira e almejava para os filhos uma vida de melhor oportunidades e planejou ir para os USA, o que geroudiscordância com o seu marido, ocorrendo à separação do casal. Ela voltou aos USA e foi residir no Harlem, e Kenneth frequentou a escola publica, quando chegou ao nono ano um conselheiro sugeriu que ele fosse estudar em uma escola profissional, e quando a sua mãe soube disso foi à escola e disse que não voltou para Nova York para o seu filho trabalhar em uma fábrica. Grande exemplo de mulher preta que criou os seus filhos sozinha e lutou para que o seu filho se tornasse um grande homem. O seus estudos futuros foram na George Washington High School, e após a conclusão do curso foi para Universidade de Howard (Universidade Preta), e almejava estudar economia, mudando de ideia após assistir uma aula de psicologia que o ajudou a entender melhor o racismo, e convenceu também a Mamie Phipps estudante de física e matemática, sua futura esposa, a estudarem psicologia.

Os dois estudaram os efeitos do racismo sobre a identidade e a autoestima de crianças em idade escolar em uma época de segregação nas escolas e vigor do Jim Crown http://cnncba.blogspot.com.br/2007/11/rosa-parks-mulher-que-transformou-uma.html (artigo escrito em 2007 por Ulisses Passos, a época estudante de Direito, atualmente advogado).

Foram fazer o doutoramento na Universidade de Columbia e continuar o trabalho sobre os efeitos psicológicos do racismo.

Realizou projetos importantes na área de psicologia e educação, ministrou aulas no Hampton Institute na faculdade de New York. Foi também Nomeado professor visitante em Harvard, Columbia e da Universidade da Califórnia, Berkeley, escolhido membro do conselho de curadores da Universidade de Chicago e na Universidade de Howard, e vencedor de inúmeros prêmios, incluindo em 1961 a Medalha NAACP Spingarn. Clark também foi instrumental no estabelecimento do Metropolitan Applied Research Center e do Centro Conjunto de Estudos Políticos, instituições dedicadas a fazer pesquisa em ciências sociais relevantes para o movimento dos direitos civis e para o processo de mudança social. Foi o primeiro preto a ser eleito presidente da American Psychological Association.
Os seus principals livros foram: Prejudice and Your Child (1955), The Negro Student at Integrated Colleges (1963), Dark Ghetto (1965), A Relevant War Against Poverty (1968), A Possible Reality (1972), Pathos of Power (1975).

Clique e leia o livro: The negro Student at integrad Colleges. 

O reconhecimento do seu trabalho começou em 1946, ao fundar o Centro de Desenvolvimento Infantil Northside. Um dos seus trabalhos mais importantes foi a análise da patologia do racismo e os danos psicológicos, formulando uma pesquisa 
intitulada Teste de Auto-Percepção com crianças mostrando quatro bonecos idênticos, sedo dois brancos e dois pretos, convidando as crianças para escolher os melhores, o que era bom e o que era ruim e com qual elas preferiam brincar. Estes testes foram aplicados em diversas regiões dos USA e o resultado foi a comprovação de que o racismo afetava as crianças pretas, porque a maioria preferia as bonecas brancas e rejeitava as bonecas pretas. A conclusão foi de que o racismo afetava o desenvolvimento psicológico, a personalidade, elas tinham a baixa autoestima e uma negação da ancestralidade africana. O belo e o bom era o branco, o feio e o ruim era o preto. Grande desafio que a comunidade preta teve que enfrentar para criar mecanismos que garantissem o amor a africanidade das crianças.
Brancos e Negros - Psicologia


Este trabalho teve um reconhecimento memorável pelas organizações pretas como a NAACP (Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor) após a apresentação de um relatório para Casa Branca sobre os problemas da juventude minoritária em 1950. Os estudos deram subsídios para a NAACP enfrentar a segregação nas escolas estadunidenses, que em 1954 caso em que o Tribunal de Justiça declarou as leis estaduais que estabelecem diferentes escolas públicas para estudantes negros e brancos inconstitucionais. Clark e seus colegas argumentaram que a segregação tende a criar nos sentimentos negros filhos de inferioridade, auto-rejeição, e perda da autoestima, que afetou negativamente o capacidade de aprender.

A vida de Kenneth Bancroft Clark além das atividades acadêmicas foi de participação ativa nas lutas pelos direitos civis, inclusive teve encontros com Malcom X e Martin Luther King.

Malcolm X - Interview with Kenneth Clark - Part 3


Martin Luther King, PBS interview with Kenneth B. Clark, 1963



“De acordo com Tomes Dr. Henry, diretor-executivo da American Psychological Association (APA), o legado de Clark é considerado como os dos gigantes da psicologia: Sigmund Freud, Pavlov Ivan e BF Skinner.

No fim de sua carreira, Clark admitiu que ficou decepcionado com a persistência da segregação de fato a educação e inferior para muitos negros. Quando fui visitá-lo em meados dos anos 1970 que procuram ideias para o estudo de comunidades negras na Grã-Bretanha, ele confidenciou que ele havia subestimado a gravidade do racismo. Era uma ilusão acreditar que a maioria dos brancos estavam procurando uma maneira de sair do pântano da segregação, disse ele.” 
Thomas L. Blair

Faleceu em Hastings-on-Hudson, Nova York em maio de 2005 e deixou um legado importante nos estudos da psicologia e na luta contra o racismo.

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