O racismo dos reitores e do Governo de São Paulo




Colegas,




Recentemente, a pedido de Edson França, me vi encarregado de pensar o Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Superior, lançado pelo Governo Estadual, em parceria com os reitores da USP, Unesp, Unicamp, Fatecs e das Faculdades de Medicina de Marília e Rio Preto. 
Esse singular programa de ações afirmativas, que segue os parâmetros da aristocracia acadêmica paulista, reconhece a subrepresentação de populações pobres, negras e indígenas nos bancos universitários e se propõe a solucionar o problema sem  questionar o sacrossanto "mérito acadêmico". Para tanto, elaboraram uma estratégia que articula iniciativas federais (ENEM), incentivo do Governo do Estado  (investimento de noventa e quatro milhões de reais até 2021) e projetos autônomos das instituições.


A proposta foi desenvolvida por comissão composta no âmbito do Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas, o Cruesp

Nele, de acordo com o Portal do Governo "(..)  50% das matrículas em cada curso e em cada turno [serão] ocupadas por alunos que cursaram integralmente o ensino médio em escolas públicas. O Pimesp prevê investimentos de R$ 27,017 milhões em 2014 e deve atingir R$ 94,679 milhões em 2021. A quantidade de vagas destinadas aos estudantes de escolas públicas será implantada gradativamente, começando com 35% em 2014, 43% em 2015, chegando aos 50% em 2016". "


"Para garantir a permanência, o governador anunciou a criação de um fundo especial para bolsas de meio salário mínimo (R$ 311,00) aos alunos com renda familiar inferior a 1,5 salário mínimo, para suprir necessidades de transporte e alimentação. "
Ainda de acordo com o Portal, serão instituídos os Institutos Comunitários de Ensino Superior (ICES), em parceria com a Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo), que irão ofertar cursos superiores com duração de dois anos a esses estudantes. Ao todo, são 2 mil vagas para os alunos das escolas públicas, das quais mil são reservadas para pretos, pardos e indígenas. A seleção para ingresso no Ices será realizada de acordo com o desempenho dos candidatos no Enem ou no Saresp, a ser definido pelo Conselho de Reitores.

Vale lembrar que os cursos do Ices conferem ao estudante o diploma de tecnólogo e o ingresso automático nas universidades públicas estaduais para quem desejar continuar os estudos, desde que o aluno tenha aproveitamento mínimo de 70%. 
Aparentemente, o Programa constitui um avanço em direção a inclusão no ensino superior, mas na prática trata-se de um engodo baseado nos piores preconceitos das classes médias e elites de São Paulo. Chamo atenção para dois problemas:
1.Obrigatoriedade de cursar os ICES. Estamos pedindo que estudantes a partir de 17 anos, ao invés de ir para universidades façam um reforço (um nivelamento) de dois anos de estudo para, de acordo com suas notas ter acesso a partir de 2015 as instituições paulistas. É a reedição do Programa Inovador de Cursos do Paulo Renato, falecido,  de triste memória, ex-ministro da Educação do Governo Fernando Henrique Cardoso. Ou seja, ao invés de constituir redes de sociabilidade, círculos de convivência eles farão um estágio em um cursinho virtual segregado, voltado para o Mercado.
É aquela velha ideia, bem paulista, que lugar de pobre, negro e indígena é no eito. Enquanto seus filhos vão para o exterior, inclusive com auxílio do Governo Federal, por meio do Programa Ciência Sem Fronteira, os pobres, negros e indígenas devem esperar nos ICES.
2.Mérito. As brancas e iluminadas cabeças dos reitores paulistas entendem que nenhuma proposta de inclusão pode sacrificar o mérito acadêmico. Curiosamente, por conta de uma mentalidade racista e elitista, suas magnificências esqueceram de estudar a bibliografia produzida em dez anos de experiências de ações afirmativas em nosso país. Eles confundem preparação para o vestibular e oportunidade de acesso a educação com capacidade intelectual. 
Por fim, é um programa que expressa a fina flor do pensamento da Casa Grande, que tenta desviar a opinião pública brasileira do fato que as universidades paulistas são contrárias as políticas de promoção de igualdade no acesso á  educação superior.
Precisamos combater essa proposta digna dos tempos de Oliveira Viana, Silvio Romero e Nina Rodrigues, os baluartes do racismo científico, uma pura manifestação da psicopatologia do branco brasileiro, apontada pelo saudoso Guerreiro Ramos.
Ao combate e até a vitória!!!
Paulino Cardoso
Presidente da ABPN

Fonte:http://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/lenoticia.php?id=225115. Acessado em 03.12.2013




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